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Angiospermas da Praça da
Independência - João Pessoa / PB

A Praça da Independência é um espaço público situado na cidade de João Pessoa no bairro de Tambiá, próximo ao Parque Zoo-botânico Arruda Câmara (PZAC). É produto de uma doação de um sítio à cidade, pertencente à família de Walfredo Guedes Pereira, no governo de Sólon de Lucena (1920-1924) em que ficou acordado que o município construiria uma praça no local. Possui um coreto que fica voltado à Av. Walfredo Leal, um obelisco e um busto de Otacílio de Albuquerque. (MEMÓRIA JOÃO PESSOA, s/d).

Praça da Independência pelo mapa no Google Maps

Coreto: Parte da frente. Foto: Everson Silva de Azevedo


Coreto: Parte de trás. Foto: Everson Silva de Azevedo


Coreto: Equipamento para auxiliar pessoas com necessidades especiais. Foto: Everson Silva de Azevedo


Coreto: Banheiro. Foto: Everson Silva de Azevedo


Coreto: Placa de descrição da Praça, onde hoje funciona uma floricultura. Foto: Everson Silva de Azevedo


Coreto: Placa de inauguração. Foto: Everson Silva de Azevedo


Obelisco na parte central da praça. Foto: Everson Silva de Azevedo


Obelisco: Placa de revitalização feita em 2000 pelo prefeito Cícero Lucena. Foto: Everson Silva de Azevedo


A praça foi inaugurada no ano de 1922 em comemoração ao centenário da independência do Brasil (MEMÓRIA JOÃO PESSOA, s/d) e reinaugurada em 2015. A praça é hoje um dos locais de convivência e lazer mais procurados pelos habitantes da cidade. Embora também seja bastante frequentada para a prática de esportes (OLIVEIRA, 2012), há controvérsias pois há relatos de ocorrência de assaltos, inviabilizando que famílias e estudantes de escolas próximas frequentem. A praça já passou muito tempo sem receber manutenção causando deterioração da calçada externa e abandono dos caminhos de terras batidas que ainda hoje em determinados locais alagam. Foi projetada pelo arquiteto Hermenegildo Di Lascio, inspirada no traçado geométrico típico francês e possui 37.819 m². A praça é considerada um marco no paisagismo da Capital Paraibana. (COUTINHO, 2019; SECRETARIA DE TURISMO, 2022). Foi tombada pelo IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba) em 26 de agosto de 1980, (SECRETARIA DE TURISMO, 2022) formalizado pelo decreto de tombamento no 8.641.

O Obelisco é o monumento central que foi tombado em conjunto com a praça e ainda hoje é usado em comemorações, como para hastear a bandeira no dia 7 de setembro pela Polícia Militar da Paraíba. (OLIVEIRA, 2012). O Obelisco representa a luta pela independência do Brasil e ali ocorreram as comemorações do centenário da independência. (SECRETARIA DE TURISMO, 2022). O Coreto com características arquitetônicas de Art Nouveau também foi construído para realizações de eventos cívicos. (MEMÓRIA JOÃO PESSOA, s/d). Recentemente, no ano de 2015, o Coreto e o Obelisco (Figs, 2 e 3) passaram por um processo de manutenção, além do Coreto receber uma plataforma elevatória tornando-se acessível para pessoas com necessidades especiais. (COUTINHO, 2019).

O projeto da Praça da Independência contém marcantes traçados franceses. Os bancos da praça no início do projeto eram em número de 100, representando cada ano do centenário da independência. Hoje em dia a praça tem 54 bancos. O quadrante do projeto representa as quatro regiões do país, pois na época o Nordeste ainda era anexado ao Norte. O projeto arquitetônico da praça contém o formato de um "x" no centro, e foi inspirado na bandeira da Inglaterra que foi o país onde se iniciou o pensamento libertário. (SECRETARIA DE TURISMO, 2022).

Otacílio de Albuquerque era um médico de Areia e ex-prefeito de João Pessoa. Seu busto foi feito em granito e já passou por diversas reformas ou restaurações. (SILVA, 2021). Foi homenageado na praça devido seus ideais de liberdade que se contrapunha à época.

Busto do Dr. Otacílio de Albuquerque. Foto: Everson Silva de Azevedo


Parte traseira do busto do Dr. Otacílio de Albuquerque. Foto: Everson Silva de Azevedo


Placa do busto do Dr. Otacílio de Albuquerque. Foto: Everson Silva de Azevedo


Na época da criação do projeto existiam somente quatro regiões no país, o Brasil Norte, o Brasil Sul, o Brasil Leste e o Brasil Oeste. Hermenegildo Di Lascio, então, projetou a praça em um quadrado com quatro quadrantes em que cada uma representava uma região do Brasil e alinhou rigorosamente aos pontos cardeais Norte, Sul, Leste e Oeste. Assim, o Brasil Norte corresponderia ao quadrante anexo ao Coreto e atual Colégio Pio XI. Como ele tinha amizade com um botânico, pediu para que separasse espécies representativas de cada região para implantar nesses locais. (SILVA, 2021)

O projeto da praça foi elaborado no processo de modernização da cidade de João Pessoa no início do século XX e a sua construção contribuiu para a ocupação do litoral. Na época da urbanização da cidade de João Pessoa foram abertas novas ruas nesses arredores, que contribuíram para conectar o Parque Solon de Lucena à Praça da Independência e à Avenida Epitácio Pessoa, que teve sua finalização no ano de 1940. Antes, o local onde hoje é a Avenida Epitácio Pessoa, era em grande parte um local inabitado com fragmentos de Mata Atlântica. Todo esse processo facilitou o deslocamento das pessoas para o leste e contribuiu mais ainda para a expansão urbana e ocupação da área litorânea. (OLIVEIRA, 2012; MARTINS; MAIA, 2015). A Praça da Independência é localizada justamente no início da Av. Epitácio Pessoa.

A Praça da Independência, além de plantas comumente usadas no paisagismo contemporâneo, também abriga diversas espécies que representam os biomas brasileiros, como por exemplo Couroupita guianensis Aubl. (Castanha-de-macaco), que representa a Amazônia; Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis (Pau-brasil) que representa a Mata atlântica, além de Handroanthus spp. (Ipês amarelo e roxo), que também representam a Mata atlântica e o Cerrado. (SECRETARIA DE TURISMO, 2022). O cultivo de algumas espécies da flora genuinamente brasileira se deve ao início do projeto que deveria ter seguido o projeto paisagístico criado por Roberto Burle Marx. (OLIVEIRA, 2012). O projeto de Burle Marx para a Praça da Independência foi doado pelo paisagista para a cidade, mas não foi implementado. (TINEM; TAVARES; TAVARES, s/d).

Hermenegildo Di Lascio foi um arquiteto importante para a difusão e consolidação de tendências arquitetônicas na cidade de João Pessoa no século XX. Suas obras são ressaltadas nas primeiras décadas do século quando houve a modernização da cidade. (AFONSO, 2019). Ele era um italiano formado na Argentina (onde era radicado) e chegou em 1916 em João Pessoa, contratado para atuar nas reformas promovidas pelo então presidente de estado Camilo de Holanda (1916-1920). Assim se tornou um arquiteto com grande produção na cidade de João Pessoa e atuava nas iniciativas pública e privada. Suas obras eram inicialmente ecléticas, mas ao longo do tempo se converteram em Art Déco, com mais simetria e uso de linhas geométricas. (PEREIRA, 2008)

No governo desse presidente, Hermenegildo Di Lascio seguiu trabalhando em empreendimentos arquitetônicos, enquanto o presidente abria e calçava novas avenidas e ruas. Além da Praça da Independência, Di Lascio foi autor de vários outros projetos como por exemplo a Praça do Carmo, a Praça Aristides Lobo e a Academia de Comércio Epitácio Pessoa (COSTA, 2009) esta última uma obra muito notável na capital paraibana. Mas foi no Governo de Sólon de Lucena, (1920-1924) que a Praça da Independência foi feita. Foi nessa época que o arquiteto projetou a Academia de Comercio Epitácio Pessoa seguindo linhas ecléticas. Na época, a obra da Academia ainda não havia sido terminada, mas o prédio foi inaugurado mesmo assim em 7 de setembro de 1922, para comemorar o centenário da Independência. (MEMÓRIA JOÃO PESSOA, s/d) fato que corrobora com a construção da Praça da Independência, que também foi feita em comemoração ao centenário da independência, tendo até sido implantados inicialmente 100 bancos, número relativos aos 100 anos, embora hoje só se encontre 54 bancos na praça. (BARROS, 2020)

Sobre a história do arquiteto com a Praça da Independência, houve a aquisição de um terreno pela prefeitura onde hoje é a praça, que foi doado por um fazendeiro da cidade. A pedido do prefeito Guedes Pereira em 1922 foi executado o projeto feito pelo arquiteto Hermenegildo Di Lascio nesse lugar. (BARROS, 2020)

Hermenegildo Di Lascio era um arquiteto com ideais modernistas, por isso essas ideias já eram vistas nos projetos de 1920-30 na capital. A arquitetura dessa época passou a ficar diferente dos estilos antecedentes coloniais, com inclusão de Art Nouveau. (SCOCUGLIA; MELO; MONTEIRO, 2005)

Certa vez, quando um empreendimento de um prédio construído pelo arquiteto Hermenegildo Di Lascio foi noticiado, a imprensa local, pouco antes da construção, disse que com esse novo empreendimento a cidade estaria em movimento de renovação. Em 1940 a paisagem de João Pessoa já era diferente daquela de décadas atrás, pois a meta do poder público era embelezá-la e modernizá-la. (SOUSA; ARAÚJO, 2011)

Hermenegildo Di Lascio teve um filho que era também atuante na arquitetura na Paraíba. Os Di Lascio são responsáveis por diversas obras de sucesso na cidade de João Pessoa. Segundo Afonso (2019), esse arquiteto de nome Mário Glauco Di Lascio nascido em 8 de setembro de 1929, ainda jovem, acompanhava as construções de seu pai, tendo sido diplomado em arquitetura em 1957. (AFONSO, 2019)

Havia uma firma de engenharia e arquitetura chamada Cunha & Di Lascio que era uma empresa do Paraibano Avelino Cunha e o pai de Mário Glauco Di Lascio, o arquiteto Hermenegildo Di Lascio. Esta empresa era conhecida pelas obras construídas por eles, incluindo alguns palacetes perto da balaustrada na Avenida João da Mata, nos arredores da Rua das Trincheiras, também várias obras do atual Centro Histórico de João Pessoa e proximidades no bairro de Tambiá. (AFONSO, 2019)

Hermenegildo Di Lascio ficou com problemas de saúde, o que fez seu filho interromper os estudos na Mackenzie em São Paulo e voltar a João Pessoa em 1952, tendo concluído posteriormente na Escola de Belas Artes de Recife em 1957. (COTRIM; TINEM; VIDAL, 2012). Após o falecimento de seu pai, se tornou um dos arquitetos mais atuantes na capital. (AFONSO, 2019)

Na década de 1950 houve a renovação e ampliação do número de arquitetos atuantes em João Pessoa e entre eles Mário Di Lascio, filho de Hermenegildo Di Lascio, se destacava. Ele executou diversos projetos modernistas em João Pessoa sob influência da Escola de Belas Artes do Recife. (SCOCUGLIA; MELO; MONTEIRO, 2005)



REFERÊNCIAS

AFONSO, Filipe Valentim. As Casas de Mário Di Lascio: Projeto, Tempo e Lugar. 2019. 208 f. - Universidade Federal da Paraiba, [s. l.], 2019.

BARROS, Roanny Viana de. Os Potenciais de educabilidade ecológica e socioambiental da praça da independência em João Pessoa - PB - Estudo de Caso. Revista EA, [s. l.], n. 79, 2020.

COSTA, Ana Luiza Schuster da. PERÍMETRO DE PROTEÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA: Três décadas de história. 2009. 151 f. - Universidade Federal da Paraiba, [s. l.], 2009.

COTRIM, Marcio; TINEM, Nelci; VIDAL, Wylnna C. L. Casas de Mario Di Lascio nos anos 1970: rampas, meio níveis e divisão em dois núcleos. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, [s. l.], v. 18, n. 22, 2012.

COUTINHO, Ingrid Silveria Ribeiro. Uma análise da intervenção: Praça da Independência João Pessoa – PB. 2019. - Centro Universitário de João Pessoa, João Pessoa PB, 2019.

GOOGLE EARTH. Google Earth website. [S. l.], 2009. Disponível em: http://earth.google.com/.

MEMÓRIA JOÃO PESSOA. Academia de Comércio Epitácio Pessoa: Informatizando a História do Nosso Patrimônio. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: http://www.memoriajoaopessoa.com.br/acervopatrimonial/2.pdf. Acesso em: 3 jul. 2022.

MEMÓRIA JOÃO PESSOA. Coreto, Obelisco e Praça da Independência: Informatizando a História do Nosso Patrimônio. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: http://www.memoriajoaopessoa.com.br/acervopatrimonial/13.pdf. Acesso em: 2 abr. 2022.

OLIVEIRA, Almir Felix Batista de. O Que Se Preservou Em João Pessoa Ou De Quando a Arte E a Arquitetura Definem O Patrimônio Cultural De Uma Cidade. Cordis, [s. l.], n. 8, p. 367–396, 2012. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/cordis/article/view/12934/9402.

PEREIRA, Fúlvio Teixeira de Barros. Difusão da arquitetura moderna na cidade de João Pessoa (1956 - 1974)Architecture. São Carlos - SP: [s. n.], 2008.

SCOCUGLIA, Jovanka B. C.; MELO, Marieta D. T. de; MONTEIRO, Lia T. Arquitetura Moderna no Nordeste 1960-70: a produção de Borsoi em João Pessoa. [S. l.], 2005. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/432SEGAWA. Acesso em: 3 jul. 2022.

SECRETARIA DE TURISMO. Praça Da Independência. [S. l.], 2022. Disponível em: https://turismo.joaopessoa.pb.gov.br/o-que-fazer/pontos-turisticos/pracas-e-parques/praca-da-independencia/. Acesso em: 2 abr. 2022.

SILVA, Tahis Virgínia Gomes da. INFORMAÇÃO E MEMÓRIA NO ESPAÇO PÚBLICO DA CIDADE: análise de logradouros com estatuária em João Pessoa. João Pessoa - PB: [s. n.], 2021.

SOUSA, Alberto; ARAÚJO, Darlene. A arquitetura do poder público e a transformação da paisagem na capital paraibana, 1915-1940. [S. l.], 2011. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.128/3719. Acesso em: 3 jul. 2022.